Friday, February 10, 2006


AUTÊNTICOS E TEMPESTIVOS

Por razões e ações conhecidas ou, em alguns casos, vez por outra, omitidas, o ambiente político-partidário-eleitoral, tal qual a temperatura da terra, tende ao esquentamento geral.
"A política, no ensinamento de Jacques Rancière, Professor Emérito de Estética e Política na Universidade de Paris VIII, ocupa-se do que se vê e do que se pode dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e qualidade para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis do tempo."
Pois, em recente artigo, -- O Principe Falante -- publicado no jornal Folha de São Paulo, José Arthur Giannotti, Professor Emérito na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, critica o discurso do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vê debilidade no atual debate democrático. " ... a democracia do marketing parece acuada pela verdade, escreve ele, pois o político fala o que as pesquisas de opinião pública lhe ensinam." E continua: " Ao detectar as vontades e anseios dos diversos grupos da população, o político pode se dar ao luxo de dizer aquilo que se quer que ele fale, muitas vezes sem levar em conta as possibilidades de cumpir sua palavra." Merece crédito.
Ainda nos anos 70 do século findo, tempos quentes do então regime autoritário instalado, na engajada MPB – Música Popular Brasileira, germinam inspirados compositores. Um deles, Sérgio Sampaio, estala versos em brilhante canção:
" Há quem diga que eu não sei de nadaQue eu não sou de nada e não peço desculpasQue eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
..."
HOJE, em cenário de liberdade construído por muitos esquecidos, pintado por alguns ausentes e ocupado por outros vivos, há quem diga algo muito semelhante. O título da música denuncia:" Eu quero é botar meu bloco na rua." Haja paciência!
Não me atrevo a advinhações futuras.
Convém, entretanto, lembrar aos vivos e aos mortos também, o que disseram os ausentes, quase sempre esquecidos, ao longo do tempo:
"En primer lugar,..." observa o poeta, teatrólogo e articulista espanhol Mariano José Larra, em artigo -- ? Quién es el publico y donde se encuentra ?—publicado na Revista Española por volta de 1830:
"...que el público es el pretexto, el tapador de los fines particulares de cada uno. El escritor dice que emborrona papel y saca el dinero al público por su bien y lleno de respeto hacia él. El médico cobra sus curas equivocadas, y el abogado sus pleitos perdidos por el bien del público. El juez sentencia equivocadamente al inocente por el bien del público. El sastre, el librero, el impresor, cortan, imprimen y roban por el mismo motivo, y, en fin, hasta el... pero ? a qué me canso? Yo mismo habré de confesar que escribo para el público, so pena de tener que confesar que escribo para mí.
Y en segundo lugar, concluyo: que no existe un público único, invariable, juez imparcial, como se pretende; que cada clase de la sociedad tiene su público particular, de cuyos rasgos y caracteres diversos y aun heterogéneos se compone la fisonomía monstruosa del que llamamos público; que éste es caprichoso, y casi siempre tan injusto y parcial como la mayor parte de los hombres que le componen; que és intolerante al mismo tiempo que sufrido, y rutinero al mismo tiempo que novelero, aunque parezcan dos paradojas; que prefiere sin razón , y se decide sin motivo fundado; que se deja llevar de impresiones pasajeras; que ama con idolatría sin porqué, y aborrece de muerte sin causa; que es maligno y mal pensado , y se recrea con la mordacidad; que por lo regular siente em masa y reunido de una manera muy distinta que cada uno de sus individuos en particular; que suele ser su favorita la medianía intrigante y charlatana, y objeto de su olvido o de su desprecio el mérito modesto; que olvida com facilidad e ingratitud los servicios más importantes. Y premia com usura a quien le lisonjea y le engaña; y por último, que con gran sinrazón queremos confundirle com la posteridad, que casi siempre revoca sus fallos interesados."
Hasta!, digo eu.