Sunday, February 11, 2007

GATOS PARDOS ( 16 )

Loucuras de inverno


Os vizinhos do solitário morador da casa número 214, da rua do papel grosso, acordaram assustados no meio de uma noite de lua cheia, a última daquele inverno rigoroso e seco.
Todos sabiam que aquele vizinho não era bem certo da cabeça mas, desta vez, algo estava errado. Os gritos de dor, misturados a nervosas gargalhadas, substituíam as risadas soltas e o murmúrio insistente , comuns àquele sujeito, um homem de altura mediana, magro, muito magro, cabelos ainda castanhos, apesar dos sessenta e poucos anos de idade, barba sempre feita, bigode curto, nariz grande, e testa larga. .Contudo, por onde passava era quase sempre festejado.
Sua loucura , também medida pelas vestes, calçados e adornos que usava -- espalhafatosas gravatas coloridas e paletós de mangas extremamente curtas, de tal modo que não alcançavam os pulsos finos, quase secos; anéis rudimentares, feitos de fios de cobre, abundavam nos dedos finos das suas mãos peludas ; os bicos dos sapatos que invariavelmente calçava eram todos cortados na sua parte superior , expunham à vista as unhas compridas dos dedos dos pés, sem meias, engolidas -- fora resultado de uma decepção amorosa, ainda na juventude. ouviu-se dizer que , completamente apaixonado, com todo o enxoval pronto e de casamento marcado, na véspera, a noiva foge com o melhor dos seus amigos. nunca se comprovou nada, mesmo porque o tal amigo não passava de um pobre coitado, já meio arqueado pelo excesso de consumo de bebida alcóolica e cigarro, e que, de tão passivo, tímido e doentio, tinha o apelido de Sonâmbulo.
naquela noite, durante a ocorrência de outro apagão, provocado sei lá por quem, os vizinhos confrontantes continuaram todos no estado natural de comodismo: " esperar para ver como é que fica", não se atrevendo, ninguém, a buscar resposta àquele incômodo noturno. Exceto o filho mais velho do morador da casa ao lado: o moço Rafa, estudante de arquitetura na universidade da capital , jovem de boa índole e que mantinha uma razoável amizade com o vizinho barulhento. Pulou da cama e sem demora estava à porta do desmiolado e estranho amigo. Sem resposta aos vários chamados e ainda ouvindo gemidos e gargalhadas , resoluto, arrombou a janela do único quarto da pequena casa.
--
Peter !? que houve ?
Deitado, despido da cintura para baixo e numa agitação só, ele segurava e soprava seus testículos, intercalando gemidos e risos.
-- Vamos dar um passeio ! - disfarçou o rapaz, constatando a gravidade do caso.
Num instante, à bordo do automóvel do moço, chegaram ao pronto-socorro municipal, que dali distava pouco.
Depois de um breve relato à atendente, estão diante do médico plantonista. Este, estupefato diante do que vê, opta, preliminarmente ,por relaxá-lo com uma dose de calmante.
Após algum tempo e de vários procedimentos, sem êxito, o médico conclui que o paciente necessita mesmo é de um dentista.
-- Dentista ?!?! o doutor martinni !! -- espantam-se e indicam, atentas e pasmas, as enfermeiras.
Funcionário público em final de carreira, único cargo que exercia, mal remunerado e, por conseguinte, desestimulado, Luigi Martinni, àquela altura, se dedicava muito mais à jogatina desvairada, sempre até altas horas da noite, que à odontologia. Nos últimos meses, havia passado mais tempo em greve, reivindicando pretensos direitos e aumentos salariais, que propriamente dentro do gabinete de trabalho. Era pragmático e .... diariamente: andava, falava, ouvia, respirava, comia , trabalhava, jogava e dormia. Semanalmente: mensalmente: anualmente:
Chamado ás pressas, já de madrugada, o velho dentista se apresenta com sua carranca habitual.
-- Mas... isto é uma brincadeira de mau gosto! este sujeito usa dentadura. Tiram-me do sossego do jogo para uma brincadeira de mau gosto --, apressa-se no seu diagnóstico ao saber de quem se tratava.
--" O negócio dele é mais embaixo" doutor,-- esclarece o médico, disfarçando um sorriso malicioso. e acrescenta:
--
é que,... depois de introduzir este estranho anel no pênis flácido, ele começou a masturbar-se, creio, provocando o enrijecimento do órgão, pressionando sua base , provocando estrangulamento... quase .. ! veja!
-- tarado!
-- resmungou o dentista.
-- Trauma, doutor ; mescla de sofrimento e gozo!! -- completou o amigo rafa.
-- Que trauma que nada. Safado é o que ele é! - sinaliza o cirurgião.
Detalhado o ocorrido, o dentista inicia um delicado procedimento cirúrgico para a retirada do objeto e o conclui, com sucesso, pouco antes do amanhecer.
Nas noites seguintes, sem apagões, só risadas!!

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